O Grupo de Trabalho da Sociedade Civil para a Agenda 2030 (GT Agenda 2030), coalizão que reúne 50 organizações, movimentos, fóruns e fundações brasileiras, vem a público repudiar o discurso do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, durante a 75ª Assembleia Geral da ONU. Enquanto o secretário-geral António Guterres destacou a importância do multilateralismo, da atuação de defensores/as de direitos e da ciência, o chefe da nação mais uma vez utilizou a tribuna internacional para disseminar informações falsas sobre o país, culpar inimigos imaginários pela destruição ambiental, desrespeitar a sociedade civil e o trabalho da imprensa.

É uma leviandade responsabilizar os povos tradicionais e as ONGs pela destruição do Pantanal, do Cerrado e da Amazônia quando são públicas as evidências da propositada inércia do governo brasileiro nesse quesito. Em 2020, o Ministério do Meio Ambiente gastou apenas 0,4% da verba total disponível ao fortalecimento da política ambiental e para 2021 já está anunciado corte de R$ 184,4 milhões na pasta, além de redução nos recursos destinados ao Ibama e ao ICMBio.

Os dados atuais mostram que o Pantanal perdeu entre 15% e 23% de toda sua área para o fogo. Entre 1º de janeiro e 12 de setembro de 2020, o número de queimadas no bioma saltou de 210%, passando de 4.660 para 14.489, configurando a maior destruição desde o início da série histórica, em 1999. Dados do INPE também mostram que a Amazônia já registrou 27.660 focos de incêndio entre os dias 1º e 21 de setembro, um aumento de 38% em relação a setembro de 2019.

Sobre a pandemia da Covid-19, Bolsonaro, alinhado a países que negam direitos e subserviente aos Estados Unidos, afirmou que “a imprensa dissemina pânico entre a população”. Esquiva-se da responsabilidade de ter competido com ministros da Saúde, retirado profissionais que atuavam com evidências no controle da pandemia, politizando-a. Enquanto ele dizia inverdades na ONU, 137 mil pessoas já tinham falecido devido ao novo coronavírus no Brasil, país que infelizmente optou pelo caminho da desproteção social, que é hoje uma triste referência pelas violações aos direitos humanos e pela criminalização das organizações da sociedade civil, o que pode ser atestado nos dados do Relatório Luz 2020.

O Brasil de 13 milhões de pessoas sem trabalho, onde mais de 10 milhões passam fome, não se reconhece no discurso do presidente Jair Bolsonaro na 75ª Assembleia Geral da ONU. O GT Agenda 2030 denuncia, mais uma vez, as mentiras de um governo que nos deixa cada vez mais distantes dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Enquanto a ONU inaugura a Década de Ação pelos ODS, na qual líderes globais se comprometem a acelerar as ações em prol das pessoas e do planeta, da prosperidade e da paz, valorizando as parcerias multilaterais, o presidente do Brasil se apresenta, mais uma vez, como um líder que mente, um mau exemplo para o mundo.

Brasil, 22 de setembro de 2020.

Grupo de Trabalho da Sociedade Civil para a Agenda 2030

Lista de membros: https://gtagenda2030.org.br/quem-faz/

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