Consumo refreado e o mercado

Artigo de Claudio Fernandes, economista e consultor do GT Agenda 2030, publicado originalmente no jornal Diário do Nordeste no dia 15 de maio de 2020
O mundo pós-Covid-19 pode ter dois efeitos disjuntivos. Um deles, o aumento de concentração de riqueza e capital, o que significa maior índice de oligopolização dos mercados. O outro, um aumento na disseminação de produção e distribuição local, em vez de uma dependência tão grande da logística de transporte, seja nacional ou internacional.
O consumo também sofrerá um rebalanceamento, pois os recursos das pessoas vão, por um bom tempo, se basear em essencialidade. O consumismo desenfreado, marca de tempos recentes pré pandemia, portanto, está ameaçado. A população deve passar por uma reconsideração de valores. Uma realidade diferente em que novas oportunidades surgirão enquanto outras desaparecerão.
O novo comportamento do consumidor também fará com que a publicidade deva ser outro setor com um crescimento vertiginoso no futuro próximo. Já empresas com alto nível de endividamento têm seu risco de sobrevivência aumentado, pelo fato de ter pouco espaço de manobra. O crédito no Brasil é caro.
Os bancos, um oligopólio com participação de dois representantes públicos, ainda trabalham sob a premissa de alto risco, ou seja, altos juros, estrangulando a possibilidade de expansão de empreendimentos. O BNDES e os outros bancos estaduais e regionais de desenvolvimento devem ser os instrumentos principais para efetivar um plano de socorro de médio prazo.
De forma ampla e profunda, até agora as ações têm sido, e se mostrarão cada vez mais, insuficientes, evidência de que o governo não entendeu ainda o tamanho do problema múltiplo da pandemia da Covid-19. O golpe na economia não é estanque, mas contínuo e lento. Estamos comprando tempo, mas pagando barato por algo que nos custará muito caro. Outros países injetaram recursos para pessoas que correspondem a 10% do PIB, como nos EUA e França. Aqui chegamos a 2,3%.
Claudio Fernandes
Economista, consultor do GT Agenda 2030
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