O desenvolvimento sustentável e seus descontentes

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Artigo de Claudio Fernandes, economista, assessor de políticas da gestos e membro co-fundador do GT da Sociedade, publicado no jornal Correio Braziliense, edição de 11 de março de 2019

Mais de 97% da comunidade científica internacional especializada no tema concordam que as mudanças climáticas aceleradas deste milênio são resultado das múltiplas ações dos seres humanos, que, para manter um certo padrão de vida e dinâmica social, emitem excesso de gás carbônico na atmosfera e espalham toneladas de resíduos sólidos nas diversas águas dos territórios. Negar essa evidência é prostrar-se com uma trave de madeira frente aos olhos diante das catástrofes anunciadas pelo relatório da Comissão da ONU para as Mudanças Climáticas (UNCCC), mostrando que os eventos causados pelo já ocorrido aumento médio de 0,8 grau centígrado na temperatura estão se multiplicando e crescendo em proporção não antes prevista, colocando em risco a biodiversidade do planeta.

Quando líderes do mundo, tanto da área governamental quanto não governamental, acordaram para a realidade na Rio+20, em 2012, perceberam que não era tarde demais, mas por pouco. Incentivaram, através da ONU – organização multilateral que tem como missão a busca por civilidade, paz e prosperidade em um mundo estimulado por conflitos, injustiças e violência -, que outras pessoas e instituições trabalhassem em um plano de transição para impedir um futuro colapso da civilização, em um cenário de distopia global caso a temperatura média aumente mais do que dois graus.

Este roteiro de transição é conhecido como a Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável, assinado em setembro de 2015, que, junto com a Agenda de Ação de Adis Abeba de financiamento para o desenvolvimento (FfD) e o Acordo de Paris para as mudanças climáticas, sintetiza os problemas e aponta soluções significativas necessárias para os países alcançarem os seus Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Para que fique bem claro, tais acordos multilaterais afirmam a soberania das nações Estados-Membros da ONU no espírito de boa-fé, unidas por causas comuns e respeito ao estado de direito humano.

Mudar a matriz energética e desenhar um plano concreto para redução significativa do uso de combustíveis fósseis no mundo requer decisões corajosas e rápidas, mas que confrontam o status quo do negócio que gira em torno da petroquímica, do automóvel privado e das finanças. Ademais, como reverter toda esta cultura do consumo conspícuo embalada em plástico, para que os danos aos oceanos não ameacem a sobrevivência de toda a cadeia alimentar relacionada aos peixes, incluindo humanos? Por que não responsabilizar as empresas pela produção exagerada de lixo com suas embalagens? Ou tributar embalagens descartáveis para desencorajar seu uso? Ou investir em fontes alternativas de energia?

Os descontentes com o sentido de desenvolvimento sustentável não conseguem enxergar a necessidade de mudança. E não medem esforços e recursos para tentar negar o óbvio dessa necessidade inevitável, porque todas as soluções passam por uma forma ou outra de regulação do Estado sobre mercados, o que vai de encontro ao dogma dos neoliberais de plantão. Na prática, porém, ainda há bom senso no mundo dos negócios. O banqueiro Steve Waygood, da Aviva Investment, Londres, realça que “a própria Agenda 2030 demonstra o quanto os mercados falham”, e são essas falhas que novos paradigmas de investimento devem enfrentar.

Relatório de financiamento da sustentabilidade da Febraban (2018) mostra que, apesar de ter crescido, o financiamento da “economia verde” é menos de um quarto do total para setores que “impactam o meio ambiente”. Sendo esse o montante significativo do capital financeiro nacional, normalizar a mudança requer encontrar maneiras de direcioná-lo mais para atividades voltadas à economia circular, ao mesmo tempo mantendo a responsabilidade fiduciária do retorno no investimento e, assim, alavancar a sustentabilidade como modelo de desenvolvimento.

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