Avanço do combate à pobreza perde ritmo, diz Oxfam

Entidade alerta que a desigualdade está “fora de controle” em todo o mundo, em grande medida devido a sistemas tributários injustos
O relatório “Bem Público ou Riqueza Privada?”, lançado pela Oxfam nesta segunda-feira (21), véspera do Fórum Mundial de Davos, traz dados preocupantes sobre o combate à pobreza em todo o mundo. Segundo a organização não governamental, novas evidências apresentadas pelo Banco Mundial mostram que quase metade da população mundial – 3,4 bilhões de pessoas – vive com menos de US$ 5,50 por dia, sendo que as mulheres têm mais probabilidade de estar entre as pessoas mais pobres de todas.
A queda no ritmo do combate à pobreza seria, para a Oxfam, resultado direto da desigualdade e da apropriação da prosperidade de forma desproporcional. Entre 1980 e 2016, a parte mais pobre da humanidade ficou com apenas 12 centavos em cada dólar de crescimento da renda global, enquanto que o 1% mais risco ficou com 27 centavos. “A lição é clara: para vencer a pobreza, temos que combater a desigualdade”, afirma o relatório.
A Oxfam defende o investimento nos serviços públicos universais, como educação e saúde, como estratégia para combater a desigualdade. Isso seria possível se a riqueza de indivíduos e grandes empresas fosse adequadamente tributada. Mas, em vez disso, os impostos recaem sobre os trabalhadores de maneira desproporcional. “Para cada dólar de receita tributária, em média, apenas quatro centavos correspondem a impostos sobre a riqueza”, calcula a entidade.
Nesses mais de dez anos desde a crise financeira, o número de bilionários quase dobrou. A riqueza está se tornando cada vez mais concentrada – 26 indivíduos possuem a mesma riqueza dos 3,8 bilhões mais pobres. Porém, toda essa riqueza está subtributada. Em países como o Brasil e o Reino Unido, os 10% mais pobres pagam uma fatia maior de sua renda em impostos do que os 10% mais ricos.
Gênero – No relatório, há um recorte de gênero extremamente preocupante: a desigualdade é sexista. A maioria das pessoas mais ricas é do sexo masculino e eles detêm 50% a mais da riqueza total do que elas. A maior parte do trabalho não remunerado é feita por mulheres e meninas, que gastam seu tempo cuidando de crianças, idosos e doentes, cozinhando, limpando e coletando água e lenha. As mulheres pobres têm a maior carga de trabalho não remunerado.
Se o 1% mais rico fosse tributado em 0,5% a mais sobre sua riqueza, poderia gerar a quantia necessária para educar 262 milhões de crianças que estão fora da escola. “Tributando de forma mais justa, seria possível arrecadar dinheiro suficiente em nível global para garantir que todas as crianças frequentassem a escola e ninguém fosse levado à falência pelos custos de tratamentos de saúde para a família”, completa. A Oxfam também aponta que quase 10 mil pessoas morrerão por não terem acesso a serviços de saúde.
Agenda 2030 – Para os governos, o desafio é grande: garantir uma vida digna para todos os seus cidadãos ou riqueza extrema para muito poucos. A erradicação da pobreza extrema, o combate à desigualdade e à injustiça e a contenção das mudanças climáticas são os objetivos extraordinários da Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável. O GTSC Agenda 2030 espera que o relatório da Oxfam sirva de alerta, pois, para que ninguém seja deixado para trás, é preciso retomar o avanço das políticas redistributivas e da assistência às pessoas mais pobres.
Foto: Johnny Miller/Oxfam.
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