Brasil tem primeira edição nacional do Índice de Transparência da Moda da Fashion Revolution

GT Agenda 2030 destaca que iniciativa está em sintonia com Agenda 2030
A primeira edição do Índice de Transparência da Moda Brasil revela que das 20 marcas analisadas, oito sequer pontuaram no índice elaborado pelo Fashion Revolution CIC e Instituto Fashion Revolution Brasil com a parceria técnica do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (FGVces).
A iniciativa é um passo importante para a indústria da moda brasileira alinhar sua atuação à Agenda 2030 e aos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), em especial às metas do ODS 12: Consumo e Produção Sustentáveis. Ainda há um longo caminho a ser percorrido, mas a maior transparência é o início de uma longa jornada.
De acordo com o Relatório Luz 2018, documento elaborado pelo Grupo de Trabalho da Sociedade Civil para a Agenda 2030 (GT Agenda 2030), o atual padrão de consumo de bens e serviços é insustentável para um mundo com 7 bilhões de pessoas. O Brasil já soma mais de 209 milhões de habitantes e tem papel significativo no impacto ambiental do planeta. Ao mesmo tempo, o país possui grandes dificuldades para implementar políticas de cumprimento do ODS 12.
“A maior parte dos indicadores propostos não pode ser aplicada de forma precisa e consistente, em razão da falta de bancos de dados adequados e de critérios e metodologias de medição padronizados no mundo.”
GT Agenda 2030 | Relatório Luz 2018
Por exemplo, apesar de o governo brasileiro ter lançado em 2011 o Plano de Ação para Produção e Consumo Sustentáveis, que articula as principais políticas ambientais e de desenvolvimento do país, o mesmo ainda não foi implementado. Além disso, não atribui responsabilidades e nem inclui prazos, prejudicando o acompanhamento da execução de atividades para se atingir objetivos e metas.
Nesse cenário, a iniciativa do Índice de Transparência da Moda representa um importante avanço. Na avaliação da Fashion Revolution, transparência significa divulgar publicamente dados e informações confiáveis, compreensíveis e comparáveis sobre as práticas e impactos de marcas e varejistas em relação aos seus trabalhadores e trabalhadoras, às comunidade e ao meio ambiente ao longo de toda a cadeia de valor.
A Fashion Revolution destaca também que quando se fala em maior transparência, há uma busca por divulgação pública sobre as relações de fornecimento das empresas, bem como de suas políticas, compromissos sociais e ambientais, objetivos, metas, desempenho e progresso. A transparência favorece as condições para uma maior prestação de contas. Transparência não se trata apenas de compartilhar as boas histórias ou divulgar dados sobre os fornecedores com bom desempenho, mas de abordar, sobretudo, o cenário completo, de maneira que permita uma verificação mais minuciosa por parte dos interessados e ajude a impulsionar melhorias mais rápidas ao longo das cadeias de valor.
“Esse tipo de transparência exige que as marcas e varejistas saibam exatamente quem faz seus produtos ー desde quem os costurou, passando por quem tingiu os tecidos até quem cultivou o algodão ー estabelecendo, portanto, que as empresas rastreiem toda a jornada de seus produtos até o nível da matéria-prima. Por isso, divulgar publicamente essas informações representa um importante passo em direção a uma maior responsabilização e prestação de contas por parte das marcas e varejistas.”
Fashion Revolution | Índice de Transparência da Moda Brasil 2018
Metodologia
O Índice de Transparência da Moda usa uma metodologia que revisa e classifica somente as informações e dados divulgados publicamente pelas próprias marcas e varejistas dentro de cinco seções: políticas e compromissos; governança; rastreabilidade da cadeia de fornecimento; avaliação e remediação de fornecedores; e tópicos em destaque. Nesta última são abordados temas atuais, como salários justos para viver, resíduos e empoderamento feminino, com a possibilidade de serem substituídos a cada edição, dependendo da relevância dos temas para o contexto em questão.
Foram analisadas 20 marcas brasileiras, oito delas não pontuaram e apenas duas pontuaram mais da metade dos pontos possíveis: C&A 53%, Malwee 51%, Zara 40%, Havaianas 36%, Osklen 34%, Renner 26%, Riachuelo 23%, Hering 17%, Animale 15%, Farm 15%, Marisa 13%, Pernambucanas 10%, Brooksfield 0%, Cia Marítima 0%, Ellus 0%, John John 0%, Les Lis Blanc Deux 0%, Melissa 0%, Moleca 0% e Olympikus 0%.
Sobre o índice
O Índice de Transparência da Moda é uma análise desenvolvida pelo Fashion Revolution CIC e indica em que medida grandes marcas da indústria estão divulgando publicamente suas informações em prol de uma maior prestação de contas. O projeto existe globalmente desde 2016 e revista e classifica marcas e varejistas de acordo com a disponibilização de dados públicos em seus canais sobre suas políticas, práticas e impactos sociais e ambientais em toda a cadeia de valor.
Moda no Brasil
O Brasil é um dos principais polos têxteis do mundo e representa o quanto maior parque produtivo de confecção, empregando 1,479 milhão de funcionários diretos, dos quais 75% são mulheres. O País é, ainda, a última Cadeia Têxtil completa do Ocidente, que contempla desde a produção de fibras como algodão, passando por fiação, tecelagem, beneficiamento, confecção e varejo, até as passarelas (Abit, 2017). Reforçando a sua relevância como um dos principais atores do setor, o Brasil é o primeiro país a ter uma edição nacional do Índice de Transparência da Moda, enfatizando a necessidade de aprofundar as discussões locais sobre a importância da transparência na construção de uma indústria da moda com melhores práticas.
Índice de Transparência da Moda