GTSC PRESENTE NO LABORATÓRIO DE FINANCIAMENTO PARA O DESENVOLVIMENTO

Nova York – O dia 18 de abril foi dedicado a debates com representantes de diversos setores, sob organização do escritório do Presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas, sobre o financiamento de programas e projetos voltados à implementação da Agenda 2030.
Considerado o nó dos horizontes traçados por acordos ou resoluções internacionais com intensões voltadas à paz mundial e à inclusão social com harmonia ambiental, o financiamento direcionado e incentivado a ações positivas de mudança nas formas de desenvolver negócios e a economia geral, envolve um risco que os bancos de investimento, com sua “responsabilidade fiduciária” ao clientes, não se sentem dispostos a correr.
Porém, como ressaltado durante o evento, há muito recurso no sistema financeiro com lucratividade nula, ou até mesmo negativa. O Presidente da Assembleia Geral, o Embaixador Peter Thomson de Fiji, declarou, e foi corroborado pelo vice-presidente do Banco Mundial para o investimento sustentável, que há onze trilhões de dólares estacionados em títulos de dívida com juros negativos.
Se contar também com o montante de três trilhões em paraísos fiscais, operando em especulação financeira eletrônica, teoricamente seria possível encontrar os recursos requeridos para a implementação integrada e otimizada da Agenda 2030 em todos os países do mundo, no momento calculada em cinco trilhões de dólares.
Infelizmente não é bem assim que as coisas acontecem. A partir de decisões que levam em consideração a base de “retorno no investimento” para clientes e depositários, bancos ganham em cima de comissão sobre a escolha dos melhores retornos e tem dificuldade de incluir e desenvolver modelos de investimentos voltados ao desenvolvimento sustentável, continuando a ter uma visão muito imediatista, ainda pouco criativa. O representante do JP Morgan, um dos cinco maiores bancos de investimento financeiro do mundo, mais fortalecido depois de ter sobrevivido à crise de nove anos atrás, por exemplo, declarou sem qualquer cerimônia, “a responsabilidade do banco é encontrar retorno para o investimento do cliente. Ninguém quer ver seu capital ou sua poupança decrescer quando confiada a profissionais que administram finanças.” Uma verdade nevrálgica e pragmática, mas bastante limitante, de um profissional da engrenagem da indústria financeira. Que famílias a empresas, dependem e confiam em um retorno positivo no investimento de seus ganhos acumulados; e que países, municípios e fundos de pensão dependem dessa confiança fiduciária, são fatos. Mas que essa confiança não possa ser gerada a partir de iniciativas que corroborem para o alcance dos ODS é uma presunção inverídica. A questão é que ainda há muita resistência em revisar e transformar os atuais modelos adotados pelo sistema financeiro.
Por isso, muitas das propostas vinham na direção de transformar a Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável em algo atrativo para a alocação do capital privado e público, em que os riscos sejam alinhados com os prazos de maturação dos investimentos, pois o desafio é justamente administrar a expectativa na mudança do paradigma de retorno para os investidores. Em suma, projetos alinhados com a Agenda 2030 com potencial de lucratividade sustentada podem ser modelos de financiamento para impulsionar a implementação de vários objetivos, mas é preciso ter vontade de quem toma estas decisões.
Chamamos a atenção que um risco maior é a instrumentalização da Agenda para projetos que tenham passado por uma “maquiagem da sustentabilidade” para acessar financiamento pelos canais robustos de capital, no momento representado pelos bancos multilaterais e nacionais de desenvolvimento, como o BNDES e o NDB, Banco dos Brics.
Com tanto recurso financeiro no mundo, com um valor nominal em circulação de mais de setenta vezes o valor do PIB Global, o que ficou claro durante o Laboratório de Financiamento do PGA é que incentivos precisam ser criados para atrair parte desse capital, que se alinhem com a agenda de mudanças para alcançar sustentabilidade integral com as dimensões ambiental e social na atividade econômica. Tarefa nada fácil diante de um contexto de retrocessos políticos com suas novas faces de populismo combinado com valores retrógrados em diversos setores que, pensávamos, estariam sob consenso geral nessa altura do processo.
A negação das mudanças climáticas e direitos sexuais e reprodutivos das mulheres, para ficar com os mais polêmicos do momento, já deveriam ser pautas superadas. Assim, sem mudar paradigmas e sem re-priorização do debate sobre o próprio sentido da governamentalidade, os desafios para alcance dos ODS apenas aumentam.