Aprovação da Agenda Pós-2015 vai para prorrogação
O que está acontecendo nas salas e salões da sede da ONU em Nova Iorque pode se constituir um evento histórico, com repercussões inevitáveis para a próxima geração, pelos próximos quinze anos. O texto que deveria ter sido aprovado na sexta-feira, 31 de julho, varou a madrugada de sábado e a exaustão e o impasse forçaram diplomatas que estão ativos na negociação, co-facilitadores e o secretariado do processo a pedirem tempo.
As emoções estavam quentes na madrugada. “Não entendo porque a ONU não consegue cuidar direito do sistema de ar condicionado. Isto me deixa perplexo,” reclamou o Embaixador Kamau, já sem paletó, com as mangas de sua camisa branca dobradas até o cotovelo. Mas o fervor maior não era apenas a temperatura desse verão. O Embaixador Sisou, do Benin, falando em nome dos países menos desenvolvidos – LDC (Least Developed Countries) – deixou a protocolo de lado e foi direto ao ponto: “como pode essa agenda ser direcionada a ajudar principalmente os países e as pessoas que mais precisam, se a nova proposta retirou a importância dos países menos desenvolvidos do documento? Tudo bem que os países de renda média – MIC (Middle Income Countries) – tem mais poder para influenciar o processo, e tudo bem; mas nós mais pobres não conseguimos competir e precisamos de compromissos mais concretos.”
Essa colocação veio depois que a União Europeia concordou que se seus pontos fossem acatados, estariam de acordo em assinar o documento final. Mas um dos pontos que mais uma vez queriam varrer para fora da Agenda é o conceito de responsabilidades comuns mas diferenciadas – CBDR (common but differentiated responsibilities) –, pedindo que o parágrafo 12 fosse retirado ou mantido entre colchetes.
Além disso, a linguagem sobre a importância necessária para as mudanças climáticas continuava sendo ponto de disputa. “Deixem para Paris”, dizia o negociador da UE. “Precisamos deixar claro a importância do tema e apontar uma direção ambiciosa,” colocou o Embaixador do Palau, ilha do Pacífico sob ameaça de desaparecimento com o aumento do volume dos oceanos.
E o terceiro ponto de disputa, continuava sendo sobre qual o tratamento dado ao resultado da Conferência Internacional do Financiamento para o Desenvolvimento, em Addis Ababa. Enquanto os desenvolvidos queriam integração completa, os que saíram da capital Etíope feridos pela má-fé da imposição da agenda diluída querem, obviamente, manter a distância adequada aos caminhos não propriamente apontados pela Conferência, com independência complementar das duas agendas, inclusive para seu seguimento e monitoramento futuro.
O Brasil e a Noruega foram dois países que trouxeram o foco para a importância do tratamento às pessoas e a contribuição riquíssima da sociedade civil aos processos, tanto no trabalho para a Conferência em Addis, quanto ao processo dos ODS e da Agenda Pós-2015. O Embaixador Guilherme Patriota ressaltou a importância dos direitos humanos e a necessidade de realmente “não deixar ninguém para trás, principalmente os mais vulneráveis, como pessoas vivendo com o HIV e AIDS.” Um dos poucos representantes a trazerem à discussão, princípios fundamentais já acordados pelos Estados-membro em convenções e conferências passadas.
O resultado é que o sábado foi um dia de expectativa. A plenária, que primeiro havia sido marcada para iniciar ao meio-dia, foi primeiro adiada para às quatro, depois às cinco, às nove e finalmente cancelada e adiada para hoje, domingo, nove horas da manhã. Agora.
A sala, porém, ainda está vazia às nove e cinco.