Em pleno verão novaiorquino, negociação sobre os ODS esquenta a ONU
O final de semana foi de grande expectativa. A partir do sábado à tarde passamos a checar as mensagens de e-mail a cada 5 minutos, na espera da socialização da nova versão do texto da Declaração. E não deve ter sido fácil encontrar um consenso entre os redatores pois ela somente foi socializada no domingo por volta das 22h. Então, já com o fruto dos comentários e sugestões do debate realizado na semana passada em mãos, governos e sociedade civil se debruçaram para analisar os prós e contras de cada uma das modificações apresentadas no novo documento. Na segunda-feira pela manhã, todos os setores já tinham suas principais questões rastreadas.
No geral a nova proposta está mais balanceada e tenta harmonizar diferentes posições, inclusive com maior equilíbrio, do que a anterior, entre os eixos econômicos, social e ambiental. Uma mudança simbólica, mas bem representativa do espírito da mudança, ocorreu no próprio título que mudou de Transformando Nosso Mundo:
A Agenda 2030 para Ação Global, para Transformando Nosso Mundo: A Agenda 2030 Para o Desenvolvimento Sustentável, atendendo ao pedido de muitos países de que o título precisaria refletir o foco central do debate.
Mas, apesar dos esforços dos co-facilitadores, nenhum dos lados ainda está satisfeito com a proposta, e as tensões entre países desenvolvidos e não-desenvolvidos continuam. Os temas centrais de discórdia ainda estão longe de serem solucionados e alguns deles são tão complexos, que talvez seja irreal esperar uma resolução aqui no contexto dos ODS. E eles cobrem espectros amplos, desde o princípio de Responsabilidades Comuns, mas Diferenciadas e a responsibilidade dos países ricos no financiamento do desenvolvimento, quanto à discussão de um parágrafo bem específico, sobre o ‘papel da família’ para o desenvolvimento que não reconhece a família em sua diversidade, continua, 20 anos após a Conferência de Cairo a limita-la ao formato pai-mãe-filhos/as.
Mas tudo isso já era esperado. Uma vez que as posições das delegações sobre as questões problemáticas já foram bastante discutidas ao longo do processo dos últimos anos, os co-facilitadores estão fazendo esforço extra para manter o foco das falas governamentais e da sociedade civil em propostas textuais ao documento. E insistem que o tempo para grandes modificações e linguagens novas já passou. Eles deixaram claro que não receberão sugestões que não forem aprovadas na plenária mas que, por outro lado, não querem mais ouvir longos discursos e defesas de propostas. “Apenas apresentem o que concordam ou que querem mudar”, insiste o Embaixador Macharia Kamau.

Plenária de negociações da declaração política da Agenda Pós-2015, que inclui os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
Este é um momento da negociação em que os coordenadores dos blocos de países, como União Européia e G77+China tem um papel relevante de articulação. Os blocos têm feito reuniões durante todos os intervalos buscando encontrar posições comuns. Mas a sensação que temos, ao ouvir as falas na plenária (que ontem, segunda-feira, acabou às 21h), é que as posições continuam, praticamente, as mesmas.
Por Alessandra Nilo