FfD3 sob o risco de colapso
Com a presença de milhares de pessoas de delegações de governos, do setor privado e da sociedade civil organizada, iniciou hoje pela manhã (13/07) a terceira Conferência Internacional do Financiamento para o Desenvolvimento (FfD3). O centro de convenções da União Africana em Addis Abeba ficou pequeno para conter tanta gente. O governo da Etiópia então resolveu criar uma outra camada de burocracia para o acesso ao local. Representantes da sociedade civil precisam conseguir um passe secundário para poder entrar na Conferência.
No entanto, essa dificuldade prática é apenas um detalhe na complexa negociação que continua a partir de hoje, já que o documento resultante de seis meses de negociação na ONU não está nem perto de chegar a um consenso. A possibilidade de que não haja acordo algum sobre o texto cresce a cada minuto e a cada discurso. Ontem, no domingo, na plenária da tarde do Fórum da Sociedade Civil, um dos co-facilitadores da FfD3, o embaixador Geir Pedersen da Noruega, ventilou que essa possibilidade é real.
Sentindo que um fracasso das negociações em Addis Abeba é iminente, o Secretário Geral da Conferência, Mr. Wu Hongbo, ao lado do Ministro das Relações Exteriores da Etiópia, em reunião com líderes do G77, pediu que o grupo, inclusive o Brasil, deixasse de pressionar nos três pontos mais polêmicos do documento, que inclui o processo de seguimento da FfD e sua integração com a Agenda Pós-2015, a criação de um Comitê Intergovernamental para Taxação sob auspício da ONU, e propostas concretas para financiar os meios de implementação dos ODS.
Segundo negociadores do G77, a Conferência não é mais uma negociação pois o diálogo não está acontecendo, mas, ao contrário, está ocorrendo uma imposição vinda dos Estados Unidos e União Europeia, tendo o governo da Etiópia como porta-voz.
Se a Agenda de Ação de Addis Abeba for aprovada como está, poderemos mudar o significado de FfD para Financiamento para a Dependência, não para o desenvolvimento.
É lamentável ver, mais uma vez, os governos entregando de mão beijada os direitos de seus povos ao setor privado. Mais do mesmo?
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