Financiamento para que tipo de desenvolvimento?
Chegando em Addis Abeba, a primeira questão que surge na mente se refere à própria escolha do local para a 3ª Conferência Internacional do Financiamento para o Desenvolvimento (FfD3), já que a Etiópia tem um governo que coloca na prisão representantes da sociedade civil que se expressam contra políticas que mantém a pobreza e aumentam a desigualdade, ou ativistas que tentam de alguma forma monitorar as ações governamentais.
A pobreza está em todo lugar nessa cidade, auto-anunciada como a “capital da África”. O nível de desigualdade é aparente e evidente pela quantidade de pedintes que ocupam as ruas deterioradas por falta de manutenção e pela enorme presença de favelas. Ao mesmo tempo, chama atenção a quantidade de novas e luxuosas construções ao longo das avenidas principais, e o contingente de trabalhadores da construção civil sem qualquer equipamento de segurança se equilibrando em andaimes precários feitos de madeira crua extraída das florestas do país.
E, apesar da abundante presença do slogan “tempo de ação para as pessoas e para o planeta” em outdoors ao longo das principais vias da cidade, o documento a ser negociado na Conferência FfD3 mostra que muitos governos, especialmente os de países desenvolvidos, não estão dispostos a mudar a direção de suas decisões para realmente reduzir as desigualdades econômicas no mundo.
No Fórum da Sociedade Civil, o convidado especial do segundo painel da manhã, o Sr. Wu Hongbo, sub-secretário da ONU e Secretário Geral da Conferência, deixa claro pelo seu discurso que os governos ainda não conseguem ver o papel da sociedade civil para além de provedores de serviços e implementadores de resoluções. Claro que chamamos a atenção para essa falácia e reafirmamos a demanda por espaço na elaboração e monitoramento das resoluções, em particular no processo do financiamento para o desenvolvimento sustentável que está sendo discutido no momento, e que influenciará decisões governamentais pelos próximos quinze anos.
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